ENTREVISTA: R.B.R. Barreto fala sobre os desafios de criar uma romantasia wuxia

 Autora de "A Princesa Enfeitiçada:", R.B.R. Barreto fala sobre os desafios de criar uma romantasia wuxia e a construção de uma protagonista forte em um cenário repleto de magia e superação

Autora de " A Princesa Enfeitiçada: A saga do Rouxinol, do Tigre e do Corvo Solitário”. fala sobre os desafios de criar uma romantasia wuxia e a construção de uma protagonista forte em um cenário repleto de magia e superação

A literatura de fantasia e wuxia, com suas tramas repletas de magia, lutas épicas e personagens complexos, se tornou um excelente espaço para explorar questões profundas e universais. Um exemplo disso é "A princesa Enfeitiçada", a obra de R.B.R. Barreto, que transporta os leitores para a Antiga China e nos apresenta a história da princesa Xiu-Yuan, uma jovem disposta a fugir de um casamento arranjado e a buscar sua própria liberdade.

Em uma narrativa envolvente que mistura magia, batalhas intensas e reflexões sobre o Taoísmo, a autora constrói uma trama que desafia suas personagens a enfrentarem suas próprias limitações e a tomarem decisões cruciais para seu amadurecimento. Na entrevista a seguir, R.B.R. Barreto fala sobre as inspirações para sua obra, como desenvolveu a jornada de Xiu-Yuan e as influências culturais que deram vida ao seu romance.

A autora falou sobre estes e outros temas na entrevista abaixo: 

  1. O que a inspirou a escrever uma romantasia ambientada na Antiga China?

Então, começando pela minha mãe, que adorava romances antigos e lia uma autora americana chamada Pearl S. Buck, que escrevia sobre a China sem nunca ter estado lá e fazia enorme sucesso. Minha mãe me mostrava trechos do livro mais famoso dela – A Grande Imperatriz. Eu também via filmes antigos baseados nessa cultura, mas todos ainda muito caricatos. Por outro lado, quando jovem, me encantei pelo Kung Fu através do Bruce Lee e comecei a ver vários filmes com essa pegada, incluindo a série Kung Fu, com David Carradine. Aliás, tem um clássico da sessão da tarde que me intrigou muito: chamava Os Aventureiros do Bairro Proibido. Depois disso, me interessei pelo budismo tibetano, tenho até um nome que recebi na Cerimônia Budista de Tomada de Refúgio, em um Templo de Budismo Tibetano. Uso esse nome para escrever sobre esses temas. Pratiquei mantras, jejum, um pouco de Tai Chi Chuan, tenho minha espada e isso só fez crescer minha admiração pela cultura e pelo Taoismo. Adquiri vários clássicos do Taoismo e da cultura em geral, como A Arte da Guerra, A Arte do Chá, e os releio sempre. Por último, surgiu a onda dos C-Dramas em diversos streamings. Assinei um que é exclusivo de filmes e séries asiáticas, e aí me faturei. Me surpreende e encanta os valores que eles ressaltam, apesar de professarem credos e costumes tão diferentes. O filme O Tigre e o Dragão foi um marco no cinema, mas, para mim, o filme O Herói é carregado de detalhes e simbolismos que só quem conhece algo sobre a cultura consegue decifrar. É lindo demais. Já nos C-Dramas, indicaria dois que fizeram muita diferença para inspirar esse livro: O Longo Rio e The Heavenly Sword and the Dragon Slayer Saber.

  1. Como foi desenvolver a personalidade e o crescimento de Xiu-Yuan ao longo da história?

Quanto a isso, também segui a métrica proposta nas novels originais que inspiram os C-Dramas: o modelo literário Wuxia. Nele, os personagens cultivam a energia interior através de exercícios longos e exaustivos, com a finalidade de se tornarem heróis e servirem à humanidade. Eles se associam a seitas e mosteiros, onde servem por vários anos. Em geral, os personagens são descritos em sua fase juvenil e vão amadurecendo no percurso. Saem de uma vida confortável e acabam vivenciando duras batalhas e sofrimentos. Acho que baseei a Xiu-Yuan pensando nisso. Embora estivesse cercada de amigos fiéis e inspirasse grandes amores, ela teria que ser capaz de evoluir e salvar a si mesma.

  1. Que desafios você enfrentou ao criar uma protagonista que foge de um casamento arranjado e amadurece em meio a tantas pressões?

Isso já estava meio pronto na minha cabeça, porque acredito no livre arbítrio, não é? Embora reconheça os "lugares fechados" do destino, com os quais não há discussão. Eu acho que fui nutrindo a Xiu-Yuan para que ela enxergasse as prisões que a limitavam.

  1. Poderia nos contar mais sobre a dinâmica entre a princesa e Sanzu, o jovem escravo na forma de corvo? Como essa relação evolui e impacta o desenvolvimento de ambos os personagens?

O Sanzu é o personagem misterioso, mas que, de cara, se sabe mais sobre ele do que sobre qualquer outro. A princesa é um ponto de mutação em sua vida, que o força a enxergar o lado obscuro de sua própria situação e também de sua atuação.

  1. Objetos mágicos e poderes desempenham um papel importante na trama. Como você criou esses elementos e decidiu quais deles representariam os personagens e suas jornadas?

Adoro criar objetos mágicos. Estudo sobre talismãs, radiestesia, então junto o que sei na narrativa. Gosto de estudar o Santo Graal, pedras de poder, relíquias, enfim. Sempre podem atuar dos dois lados e são impregnados pelo magnetismo de quem os controla. A lâmpada de Aladim é um exemplo. Tem um objeto específico que orienta a jornada, mas não vou falar para não dar spoiler (risos).

  1. Sua história explora temas como liberdade e poder em um cenário de tribos e impérios. Como você desenvolveu o sistema político e social desse universo? Existem algumas particularidades que considera essenciais?

Mais uma vez, recorri aos C-Dramas, um deles se chama justamente Tribos e Impérios. Li também uma parte da obra clássica O Romance dos Três Reinos, em e-book, que inspirou grandes filmes e C-Dramas também.

  1. A trama tem um "embate entre o bem e o mal". Como você quis representar o bem e o mal

    na história?

Esse foi um grande desafio cultural, pois o Taoismo não identifica bem e mal da mesma forma que a nossa cultura hebraico-cristã. Eles pensam não em um embate finito, mas em um jogo de equilíbrio e sustentação. Às vezes, o bem erra e o mal acerta, e a vida segue em harmonia. Tem um jogo de tabuleiro que aparece em todas as séries históricas que assisti. É o GO. Exemplifica muito bem as estratégias inspiradas no Princípio Yin e Yang.

  1. Qual a importância de cada lado para o desenvolvimento da princesa e de seus aliados?

Acho que a importância foi que ambas as partes a colocaram nesse tabuleiro de jogo, intuitivamente. A princípio, como prêmio. Mas... não vou dar spoiler (risos).

  1. Sabemos que o romance na história é leve e sem cenas hot. Como foi desenvolver um romance que ressoe com o público sem recorrer a esses elementos?

Há público para todos os gostos, não é? E também para todas as fases que vivemos. Às vezes não estamos no clima para certos temas. Antigamente, não existia a lista de gatilhos. A gente descobria no meio do caminho. E não estou falando só de cenas hot. Eu leio de tudo desde muito cedo e nunca perdi permissão. Nem aos meus pais nem aos meus gatilhos. Tive que me virar, pois era curiosa mesmo. Li O Cortiço com 14 anos, um livro que só faltou ser excomungado na época. O Exorcista, Carrie, a Estranha, que são terror exacerbado. Os Caminhos de Katmandu, de René Barjavel (experimenta ler esse, risos), A Noite das Bruxas, de Anne Rice, autores best-sellers da minha época como Harold Robbins, Jacqueline Susan, Irving Wallace... clássicos do erotismo. Mas gostava dos romances água com açúcar da Biblioteca das Moças, como Orgulho e Preconceito, Jane Eyre, O Morro dos Ventos Uivantes, O Vento Levou (li antes de ver o filme). Acho que é isso. É possível equilibrar. Só não gosto de exageros, seja na dor, nas cenas hot, nas cenas de maldade, nas cenas grotescas. Enfim... meu público é aquele que prefere O Senhor dos Anéis, O Tigre e o Dragão, Nárnia. Mas não afasta os que gostam de Game of Thrones, por exemplo, pois eu também gostei. Eu penso que há um público muito grande para o hot, e há outro também muito grande para algo mais sutil, mais sugestivo. Sabe que a série mais vista no mundo é uma série turca chamada Ertugrul? Não rola um beijo, nenina. Mas é um romance lindo e nem por isso menor.

Sobre a autora: Escritora de livros de fantasia, realismo fantástico, suspense e infanto-juvenil, R.B.R BARRETO ( Renata Biscaia Raposo Barreto) tem dupla cidadania, brasileira e italiana, nascida no Rio de Janeiro, socióloga e educadora. Foi docente em diferentes instituições e segmentos atuando nas áreas de sociologia, fundamentos filosóficos, metodologia, didática e tecnologia da educação. Como pesquisadora desenvolveu temas que envolvem as relações entre educação e tecnologia, design instrucional, cultura da rede e educação a distância. Autora de Muito Além do Fim do Mundo e A Noite mais Escura, gosta de experimentar diferentes universos culturais e estilos literários. Atualmente desenvolvendo uma história no estilo Wunxia, chinês, que mistura elementos históricos e fantásticos.

Redes sociais da autora: 

@rbrbarreto.escritora

Perfil na Amazon: Aqui

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