Comunidade literária cada vez mais tóxica
Nunca imaginei que chegaria o dia em que eu diria algo assim, mas a comunidade literária tem se tornado cada vez mais tóxica. Vejo escritores reclamando de avaliações feitas pelos leitores, como se eles não tivessem o direito de expressar suas opiniões. Meu Deus, é claro que têm! Eu mesma sou escritora, e, por mais que uma crítica negativa seja difícil de digerir, faz parte do processo. No momento em que publiquei meus contos e romances, aceitei que eles seriam avaliados por olhares diversos.
Quando uma obra vai para o mundo, ela deixa de ser apenas nossa. Ela se torna parte do leitor, que a interpreta com base em suas experiências e expectativas. Negar esse direito é negar minha própria liberdade de comentar sobre os livros que leio. Se queremos ser ouvidos, precisamos, antes de tudo, aprender a ouvir.
Mas o problema não está só nos escritores que não aceitam críticas. Ele se enraíza em toda a comunidade. Onde antes havia diálogo, troca de ideias e celebração do amor pelos livros, hoje há disputas acaloradas, ataques pessoais e um ambiente dominado por ego e busca de engajamento a qualquer custo.
A gentileza parece ter sido esquecida. A empatia virou artigo raro. Talvez por isso tantos estejam abandonando seus perfis literários ou desistindo de escrever. É desanimador ver um espaço que deveria unir pessoas se transformar em um campo de batalha.
E não para por aí. Influenciadores literários também têm sua parcela de culpa, ao perpetuar comportamentos tóxicos ou transformar rivalidades em entretenimento. Até leitores alheios à comunidade são apedrejados por simples resenhas negativas.
Está de um jeito que, se um escritor for ao Threads buscar ajuda, corre o risco de ser atacado ou ridicularizado antes de receber uma resposta sincera. E, pior, suas dúvidas muitas vezes se tornam chacota para alimentar o engajamento de quem só busca likes e seguidores.
É triste pensar que chegamos a esse ponto. A literatura sempre foi um refúgio, um espaço para questionar, aprender e crescer. Deveria ser um lugar de conexão, não de afastamento. Talvez seja hora de todos nós pararmos e refletirmos: o que estamos realmente construindo aqui?
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